TURISMO GASTRONÔMICO PELO BRASIL

Bora viajar através da gastronomia?

A gastronomia brasileira é riquíssima. Temos influências indígenas, africanas, europeias e peculiaridades regionais do nosso território continental, com tradições, gostos, histórias, clima e ingredientes diversos.

Aqui, vamos dar uma pincelada na cozinha predominante em cada região, com receitas e dicas de restaurantes em São Paulo para conhecer quando a quarentena acabar (ou pedir delivery, agora mesmo!).

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TURISMO GASTRONÔMICO PELO BRASIL

NORTE

Para entender a culinária nortista, é preciso ter em mente que a Amazônia é um prato cheio de ingredientes e que os povos da floresta tinham muito tempo para testar preparações com raízes, peixes de rio, frutas e sementes a que tinham acesso. O resultado foi muita coisa boa pra colocar na mesa.

A começar pela mandioca, com a qual tudo se faz: se usa desde a espécie venenosa, a mandioca brava, até a tradicional, também conhecida como mandioca mansa. Um dos pratos mais interessantes do Pará é a maniçoba, ensopado conhecido como “a feijoada sem feijão”: ele é feito com a folha da mandioca brava triturada (a maniva, que deve ser cozida por sete dias para que o veneno seja extraído) e carne de porco, e normalmente é servido com arroz branco, farinha d’água e uma pimenta de cheiro. A maniçoba é tradicionalmente preparada no segundo domingo de outubro, mais especificamente durante o Círio de Nazaré. Leia mais sobre eventos, festivais e datas comemorativas no Brasil e no exterior divididos pelo calendário do ano aqui.

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Também da raiz da mandioca brava é feito o tucupi, um caldo amarelo, aromático e ácido que é utilizado em muitos pratos do Norte. Para o preparo é preciso descascar, ralar e espremer a raiz – essa última etapa é feita com uma ferramenta inventada pelos povos amazônicos, o tipiti. Após a extração, o líquido descansa até que se separe da goma, o amido da mandioca, que fica cozinhado por mais três dias.

O tucupi é ingrediente principal para o famoso (e delicioso) pato no tucupi, no qual o pato é fervido no tucupi e depois cozido com folhas de jambu.

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O caldo de tucupi, quando unido a camarões, goma de tapioca e jambu e servido numa cuia, torna-se o tacacá, um dos grandes ícones da gastronomia paraense, amplamente vendido em barraquinhas espalhadas pelas ruas de Belém. Aliás, não pode-se deixar de falar da folha de jambu, o par perfeito para o tucupi. Essa folha é fervida e, ao ser consumida, causa uma leve dormência na boca, proporcionando uma experiência gastronômica totalmente única.

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RESTAURANTES DE COMIDA DO NORTE EM SÃO PAULO

Turismo gastronômico pelo Brasil: você pode experimentar o melhor da culinária paraense no Amazônia Restaurante ou no É do Pará. Para uma experiência com os melhores peixes da região, indico o Banzeiro São Paulo, restaurante manauara com toque de requinte e releituras modernas – o valor é um pouco mais alto, mas vale para experimentar pratos diferentes e peixes de rio muito bem elaborados.

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RECEITA DE ARROZ PARAENSE

A culinária do norte não é tão fácil de ser reproduzida, mas o arroz paraense é uma boa opção para fazer em casa (receita da minha avó!). Os ingredientes vocês podem encontrar no Combu Produtos Regionais, mercado de comida paraense em São Paulo. 

INGREDIENTES

  • 1 kg de arroz tipo 1 
  • 1 kg de camarão
  • 1 ½ litro de tucupi 
  • 8 maços de jambu
  • 1 cebola
  • 3 dentes de alho 
  • 1 pimentão verde
  • cheiro verde (coentro, chicória e cebolinha)
Dica: usamos o camarão salgado, e precisa dessalgar um pouco antes do preparo – geralmente ficando de molho por aproximadamente 24h.

MODO DE PREPARO

1. Descasque e limpe o camarão.

2. Corte a cebola em cubinhos e refogue com um pouco de óleo; quando começar a dourar, acrescente dois dentes de alho amassados, o pimentão verde cortado em pedaços pequenos, o cheiro verde e o camarão para refogarem por uns 2 minutos.

3. Ferva as folhas de jambu na água com uma pitada de sal.

4. Ferva o tucupi com um dente de alho inteiro e uma folha de chicória. Sal a gosto. Reserve.

5. Faça o arroz com uma parte desse tucupi (1 litro) e acrescente um pouco de água.

6. Quando o arroz ficar pronto, misture com o camarão e o jambu. Reserve alguns camarões, jambu e cheiro verde para ornamentar. Regue o arroz com o restante do tucupi.

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NORDESTE

No litoral da maioria dos estados há uma oferta incrível de frutos do mar, entre eles a lagosta, como é o caso do Ceará. Seu melhor preparo é na brasa com manteiga – e, se for servido à beira-mar, melhor ainda. Outros frutos do mar aparecem em pratos como bobó de camarão, casquinha de caranguejo e de siri, moqueca de arraia ou de siri mole, além de peixes deliciosos do mar, feitos na brasa e outros diversos preparos, com variações de temperos e receitas a depender da região. 

BAIAO-DE-DOIS

Não curte muito frutos do mar? Então vamos de comida do sertão: o carro-chefe é o baião de dois. Ele é tradicionalmente feito com o feijão de corda, arroz, charque, queijo coalho, coentro e manteiga de garrafa. Para os amantes de um sabor mais ardente, a pimenta é um bom acompanhamento.

Outras iguarias incluem o sarapatel e a buchada de bode, servidos em excelentes restaurantes de Recife, por exemplo. O primeiro é feito com guisado de sangue, tripas e miúdos de porco ou carneiro. Já o segundo, com tripas e estômago – quem é sensível a gostos muito diferentes pode não gostar da combinação.

RESTAURANTES DE COMIDA NORDESTINA EM SÃO PAULO

A filial do paraibano Mangai tem opções deliciosas que vão do  café da manhã tipicamente nordestino ao jantar com direito a sorvete de cajá e releitura da clássica sobremesa cartola. Também são excelentes o Mocotó, a Casa de Ieda e o Fitó Cozinha.  

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RECEITA DE BAIÃO DE DOIS

Receita de uma baiana arretada que trabalhou no Maní, a @raisalimaoliveira.

INGREDIENTES

  • 2 xícaras de feijão 
  • 2 xícaras de arroz
  • 1/2 quilo de charque dessalgado em pedaços ou desfiado
  • 1 cebola
  • 3 dentes de alho
  • 1 folha de louro
  • 2 colheres de chá de cominho
  • pimenta do reino ou/e dedo-de-moça picada a gosto
  • coentro a gosto (quanto mais, melhor)
  • manteiga de garrafa

MODO DE PREPARO

1. Refogue a cebola e o alho na manteiga de garrafa.

2. Acrescente o feijão de corda, o charque, a folha de louro, o cominho, sal e água.

3. Quando o feijão estiver cozido, acrescente o arroz e deixe dois dedos de caldo (coloque mais água se precisar para completar).

4. Quando começar a secar o caldo, é hora da pimenta, do coentro e da manteiga de garrafa. Seu paladar que manda.

5. Feche a panela, desligue o fogo e deixe descansar por 5 minutos.

6. Finalize com coentro e disponha da manteiga para mais.

7. O ponto ideal é molhadinho, mas sem caldo escorrendo no prato. Assim como um risoto, ele fica mais seco com o tempo.

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CENTRO-OESTE

Vamos agora à região da galinhada, da pamonha, do empadão goiano; tudo sempre acompanhado de uma boa cachaça. O menu aqui tem tradições culinárias dos índios, dos bandeirantes paulistas e dos migrantes mineiros e nordestinos, além de estar bastante vinculado aos ingredientes do Cerrado. Pratos de algumas áreas também são marcados pela proximidade com os rios e incluem peixes – no Mato Grosso, por exemplo, tem caldo de piranha e mojica de pintado.

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Um ingrediente que marca presença na cozinha de estados como Goiás e Mato Grosso do Sul é o pequi, uma frutinha do Cerrado que tem um aroma muito particular. Ele exige um cuidado importante para ser consumido – lembro bem da voz da minha tia quando ela dizia “não morde, pequi a gente come roendo”. Isso se dá ao fato do pequi ter pequenos espinhos e, quando mordido, eles poderem entrar na gengiva. 

Turismo gastronômico pelo Brasil: é com essa frutinha que se faz receitas muito gostosas e típicas do Cerrado: galinhada com pequi e arroz de pequi. Abaixo, vai a receita de pé rachado para reproduzir em casa, e viajar sem estar viajando.

RESTAURANTES DE COMIDA DO CENTRO-OESTE EM SÃO PAULO

O Restaurante Tordesilhas, comandado pela chef Mara Salles, inclui no cardápio o frango ao molho de pequi com trouxinhas de escarola. Consulte para ver a disponibilidade. Vale também conhecer o Dona Doceira, no Itaim Bibi, que serve docinhos e salgados tradicionais do Goiás.

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RECEITA DE GALINHADA COM PEQUI

INGREDIENTES

  • 1 kg de corte de frango caipira com osso e pele
  • 1 litro de pequi (vendido em latas de óleo de 1 litro)
  • sal
  • pimenta bode
  • pimenta do reino moída
  • 4 dentes de alho
  • cheiro verde (salsinha e coentro)
  • 1 limão 
  • 1 colher/café de cúrcuma (açafrão da terra)

MODO DE PREPARO

1. Tempere o frango com a mistura e com o açafrão da terra. Regue com o suco do limão. Reserve para acentuar o tempero.

2. Aqueça uma caçarola com um fio de azeite, acrescente o alho amassado, a pimenta e um pouco de sal – coloque os cortes de frango para dourar com a pele virada para baixo.

3. Em outra panela, coloque o pequi para cozinhar com um pouco de sal e uma pimenta de bode inteira e cubra com água.

4. Deixe-os cozinhar até que o molho engrosse e eles se tornem mais amarelos e fique com a polpa macia.

5. Despeje o pequi no caldo no frango. Deixe cozinhar até que a carne fique macia, mexendo o mínimo possível, mas sem deixar que o molho seque totalmente. Caso seque antes do frango atingir o ponto, acrescente um pouco de água quente. Salpique o cheiro verde para finalizar. Sirva com arroz branco.


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SUDESTE

A culinária do Sudeste tem influências múltiplas por todos os imigrantes que a região recebeu e varia muito entre as metrópoles, o interior e o litoral. Quando pensamos na gastronomia da cidade de São Paulo, por exemplo, dá para citar cozinha italiana, francesa e japonesa, restaurantes de comida regional de todas as partes do Brasil, points moderninhos de chefs badalados e até restaurantes de imigrantes e refugiados que chegaram nos últimos anos, como sírios, venezuelanos, palestinos e congoleses – leia mais sobre passeios e restaurantes sofisticados em São Paulo aqui.

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No Rio, além das pedidas cosmopolitas da cidade, o cardápio raiz inclui muita feijoada, bolinho de bacalhau e o tradicional filé a Oswaldo Aranha, temperado com alho frito e acompanhado de batatas portuguesas, farofa de ovo e arroz – onde comer no Rio: veja nossa seleção de restaurantes na Zona Sul. Minas Gerais prepara algumas variações da culinária sertaneja e iguarias icônicas como frango com quiabo, vaca atolada e tutu de feijão.

Já o Espírito Santo recebe muitas influências do mar na gastronomia. Os capixabas têm como carro-chefe a torta capixaba, que é feita com siri, camarão, ostra, sururu, peixe branco e palmito – uma delícia! Mas o prato mais famoso é a moqueca capixaba, que é super conhecida por ser deliciosa e diferente da baiana por não levar azeite de dendê. Ela é servida em muitos restaurantes da capital Vitória.

RESTAURANTES DE COMIDA DO SUDESTE EM SÃO PAULO

O restaurante Arimbá, da chef capixaba Angelita Gonzaga, faz junção das culinárias caipira e tropeira. No A Baianeira, com unidades na Barra Funda e no MASP, se faz receitas do Vale do Jequitinhonha (região de Minas Gerais que faz fronteira com a Bahia). Para comida mineira com porções fartas, tem o Consulado Mineiro, em Pinheiros. No mesmo bairro, o Maria Farinha, da cozinheira Lisandra Amaral, serve pratos da culinária do interior paulista.

RECEITA DE MOQUECA CAPIXADA

INGREDIENTES

  • 300 g de camarão
  • 400 g de cação
  • 2 tomates
  • 1 cebola
  •  1 xícara de chá de coentro
  •  suco de 2 limões
  •  1 colher de sopa de óleo de urucum
  • 1 xícara de chá de azeite de oliva
  • 3 dentes de alho amassados

MODO DE PREPARO

1. Em uma vasilha, cubra o cação com água e o suco de um limão. Deixe descansar por 30 minutos.

2. Escorra a água e tempere o cação com os dentes de alho amassados, sal e suco de limão. Deixe pegar gosto na geladeira por, pelo menos, 30 minutos.

3. Numa panela, coloque o óleo de urucum e cubra o fundo da panela com meia cebola e o um tomate picado. Salpique folhas de coentro e um pouco de azeite de oliva.

4. Distribua as postas de peixe uma ao lado da outra. Cubra com mais um pouco do tomate picado, folhinhas de coentro, azeite de oliva e cebola em rodelas. Os ingredientes soltarão caldo, então não precisa acrescentar mais água.

5. Tempere o camarão com alho, uma pitada de sal e coentro e acrescente o camarão 5 minutos antes de desligar a panela.

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SUL

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A região é marcada pela influência da gastronomia sobretudo alemã e italiana, uma consequência da colonização que predominou no sul do país. Mas interessante notar que, quanto mais ao Sul chegamos e quanto mais da região falamos, mais vamos nos aproximando da comida dos hermanos do Uruguai e da Argentina. A maior parte dos pratos tem presença de carne bovina, suína e até de carneiro. E a bebida típica, claro, é o chimarrão, feito à base de erva-mate.

O tradicional charque, parecido com a carne seca, é feito com carne bovina, que recebe uma camada de sal de cada lado e depois é pendurado em um local arejado para secar. E o que se faz com o charque? Muitas receitas, como arroz carreteiro e até parmegiana. 

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Outro prato interessante é o barreado, originário da cidade de Morretes, no Paraná, onde é praticamente uma atração turística. Ele é feito com carne bovina, condimentos e farinha de mandioca. Falando assim, você pode pensar que é mais uma carne de panela temperada, mas o diferencial é que o barreado é cozido lentamente, por algo em torno de 16 horas, o que o deixa com textura macia e deliciosa e permite que dure por dias.

E não podemos deixar de falar do churrasco, né? Os gaúchos são conhecidos pelas suas técnicas infalíveis, como o tradicional churrasco de chão, onde a carne é colocada em um espeto de madeira em uma vala no chão. A alma da coisa se dá com a confraternização ao ar livre ao redor do fogo e da carne. 

Ah, e aqui também precisamos falar sobre vinho, já que a região dos pampas é muito boa para a produção e, nos últimos anos, algumas vinícolas foram premiadas mundo afora. Experimente um exemplar da Casa Valduga ou da Miolo – você pode se surpreender. Veja um roteiro de 3 dias pelas serras do Rio Grande do Sul, passando por Gramado, Vale dos Vinhedos e Cambará do Sul, aqui.

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DICA DE RESTAURANTES DO SUL EM SÃO PAULO

O Ancho Bar e Restaurante tem hambúrguer no estilo gaúcho, como o xis coração de galinha. Para churrasco e clima de Serra Gaúcha, vá ao Galeto Di Paolo, com unidades em Pinheiros e na Vila Olímpia. Para mais cultura gaúcha, o Consulado Gaúcho serve “xis” e cerveja Polar. Já o pequeno El Pempero prepara carnes como o bife ancho e a linguiça campeira.

RECEITA DE BARREADO

INGREDIENTES

  • 1 kg fraldinha em cubos
  • 150 g bacon em cubos
  • 250 g cebola picada
  • 4 tomates cortado em cubos sem pele e sem semente
  • 1 dente alho picado
  • cheiro verde, sal, pimenta, cominho em pó e pimenta calabresa a gosto

MODO DE PREPARO

1. Tempere a carne com os condimentos.

2. Frite o bacon em uma panela de pressão, acrescente a carne e refogue.

3. Acrescente alho, cebola e tomates e refogue um pouco.

4. Acrescente 2 litros de água; sal a gosto.

5. Deixe na pressão por cerca de 2h30 em fogo baixo. Depois, mexa até a carne desfiar. Acrescente o cheiro verde e sirva com arroz e farinha de mandioca.

Nayara Noronha

Paraense morando em São Paulo. Apaixonada por experiências gastronômicas, compartilha nas suas redes sociais um pouco dessas aventuras de sabores por esse mundão no seu blog Explora Vida.

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