Em 2013, a revista Condé Nast Traveler fez uma pesquisa com 1,3 milhão de leitores pra eleger a melhor cidade do mundo. O primeiro lugar da lista ficou longe de metrópoles como Londres, destinos de charme como Florença e também não foi pra vencedora de 2012, a americana Charleston, na Carolina do Sul. Quem ganhou foi a pequena cidade de San Miguel de Allende, no estado mexicano colonial/cultural/gastronômico de Guanajuato.

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Isso tem a ver com o fato de a cidade concentrar uma grande população de expatriados: de seus 90 mil habitantes, 12 mil são estrangeiros, de 65 nacionalidades diferentes. Gente que se encantou com a cidadezinha de ruas de paralelepípedos irregulares, fachadas coloridas desgastadas e varandas enfeitadas por vasos de flores charmosos. Quem a visita, quer ficar.

Sua bonita igreja neogótica, a Parroquia De San Miguel Arcángel, coroa o local, mas é incrível como mesmo as ruelas desconhecidas, de onde não dá pra avistá-la, são extremamente graciosas. Tudo é romântico e com um charme antiguinho, parado no tempo. Até os táxis têm ar retrô: os carros são velhos, quadradões, com um tom de verde-escuro que lembra o século passado.

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O QUE FAZER EM SAN MIGUEL DE ALLENDE

CENTRO HISTÓRICO

San Miguel de Allende tem um centro histórico, declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 2008, com uma coleção de fachadas de cores fortes que exibem lindas portas e frondosos terraços ao longo de suas ruelas e becos calçados de pedras. O melhor jeito de explorá-lo, claro, é batendo perna por suas estreitas ladeiras de mão dupla.

O que fazer em San Miguel de Allende: dá pra começar o passeio pela Parroquia de San Miguel Arcángel, cujas torres podem ser vistas de quase toda cidade. Datada do século XVII, era originalmente uma construção barroca, toda em pedras extraídas da região, mas com a onda neogótica que tomava conta das catedrais europeias, foi quase que inteiramente reformada em 1880. Hoje, é a mais impressionante do estado, que possui várias outras igrejas católicas também com belas fachadas, como o Templo de San Francisco, esculpido no estilo churrigueresco, o barroco mexicano – o turismo religioso é BEM forte em Guanajuato.

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Em frente à paróquia fica o Jardín Principal, Jardín Allende ou, simplesmente, El Jardín. Bem arborizado, com bancos de ferro e um quiosque central, é o ponto de encontro da cidade. Ali, de segunda a segunda tem gente assistindo ao crepúsculo e esperando o acender das luzes da igreja, saboreando espigas de milho e os nieves (sorvetes típicos, com pedaços de frutas) ou partindo em tours temáticos como o da trupe de atores San Miguel Legendário, que contam lendas urbanas com humor vestidos em trajes de época enquanto percorrem endereços da cidade. Eu admito que não aproveitei tanto porque não consegui entender muita coisa – eles falam bem, bem rápido -, mas meu grupo caiu em gargalhada. Mais informações: [email protected].

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Em volta da praça há um Starbucks e mais cafés, restaurantes, lojas, o Palacio Municipal e o Museo Casa de Allende, antiga casa de Ignacio Allende e Unzaga, principal líder da primeira fase da Guerra de Independência do México – a cidade foi um dos principais cenários da luta pela libertação do país. Hoje, você vê por lá móveis, objetos e obras de arte que contam a história de San Miguel de Allende.

O museu que mais me encantou foi o Museo de La Katrina, com uma interessantíssima coleção de catrinas, as caveiras mexicanas, que representam as damas da alta sociedade do país. O lugar narra o significado da morte desde a época pré-hispânica até os dias atuais através de 10 salinhas recheadas com as mais emperiquitadas catrinas em papel machê, postas em altares, mesas, prateleiras, cômodas e armários. Na entrada há uma cachorrinha catrina fofa demais! Outra dica de museu é o criado pelo casal americano Heidi e Bill LeVasseur, que transformou sua coleção particular de máscaras folclóricas de todo o México no Mask Museum, com mais de 500 peças em exposição.

Já pra levar pra casa catrinas, cerâmicas mayólica (aquela bem coloridona e toda trabalhada, que você só encontra nessa região do México, no sul da Espanha e da Itália) e batas coloridas, *O* endereço pra pechinchar é o Mercado de Artesanías e suas tendinhas. Às terças-feiras acontece o mercadão El Tianguis, do tamanho de três campos de futebol. Dentro, você encontra antiguidades, artesanato e comidinhas. A Calle San Francisco também tem ótimas lojinhas – aproveite pra comprar garrafas de tequila, a bebida nacional, de ótima qualidade a preços ótimos. Pra algo mais elaborado, a La Calaca é a melhor loja de arte popular da cidade. A proprietária, Evita Avery, viaja o país atrás de esculturas, tecidos e joias autênticas de qualidade. Já a lojinha do La Esquina – Museo del Juguete Popular Mexicano é ótima pra comprar artesanato pra crianças (aliás, vale também dar uma volta no museu, uma instituição cultural dedicada à preservação dos jogos e brinquedos mexicanos, com mais de 3 mil peças). Na Mixta, que vende batas de várias cores, você encontra também uma boa seleção de artigos pra casa.

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Durante as andanças você vai se deparar com o café ao ar livre com mesinhas e guarda-sóis do Ten Ten Pie, no final da rua da Parroquia de San Miguel Arcángel. E vai reconhecê-lo porque é o local mais gracioso da cidade pra dar um break. Pra petiscar, o La Parada, da peruana Alexandra Gutt, propõe um encontro entre as culinárias mexicana e peruana e serve os melhores ceviches das redondezas – há invenções tipo o de polvo com molho de azeitonas pretas. Já no fim do dia, a boa é assistir ao pôr do sol no Luna Rooftop Tapas Bar, o incrível rooftop do Hotel Rosewood, com vista de 360 graus da cidade. No meu último dia em San Miguel de Allende, pedi um martini e fiquei apreciando as cores desse lugar mágico lá de cima.

ARREDORES

O que fazer em San Miguel de Allende: além do centrinho encantador, os arredores de San Miguel guardam passeios a um superjardim de cactos, a uma galeria de arte, um templo, reservatórios de águas termais e uma zona arqueológica.

LA AURORA

Não sou muito fã de passar horas dentro de galerias/museus, mas a La Aurora me ganhou. Instalada em uma antiga fábrica têxtil, ali funciona hoje um espaço ocupado por 50 galerias, bem variadas entre si. Há desde antiguidades do século 18 a Andy Warhol, Diego RiveraSalvador Dalí e obras de artistas mexicanos contemporâneos com esculturas maravilhosas à venda. Pra circular entre sala e outra há uma linda área aberta, com arte, plantas e um gostoso café – dogs são bem-vindos!

EL CHARCO DEL INGENIO (foto)
Enorme jardim botânico de suculentas, com pelo menos 750 espécies – a maior coleção do país. Há plantas com mais de 700 anos. Você passeia em uma trilha por vários cactos gigantes até uma estufa com plantinhas pequenas raras e cactos à venda. No fim, uma lojinha vende produtos naturais à base das plantas.

CAÑADA DE LA VIRGEN

A 30 km de San Miguel, o sítio arqueológico pré-hispânico guarda uma pirâmide construída entre 540 e 1050 d.C., concebida como um relógio lunar pelo povo pré-colombiano mesoamericano dos toltecas, que dominaram boa parte do México entre os séculos 10 e 12. Se você não vai a outros sítios arqueológicos e tem tempo sobrando, pode ser um passeio legal. O local fica fechado às segundas-feiras.

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SANTUARIO DE ATOTONILCO (foto à direita)

Templo novohispano todo branquinho, considerado a Capela Sistina do México e um monumento artístico excepcional por seus murais do século XVIII. Ali fica o primeiro estandarte da Virgem de Guadalupe, que serviu de bandeira na Guerra da Independência. Barraquinhas com artigos religiosos enfileiram-se em volta da praça principal. Achei o lugar bem fotogênico.

ÁGUAS TERMAIS (foto à esquerda)

Mananciais de águas termais e alcalinas, ricas em propriedades minerais, pipocam nos arredores da cidade. Alguns hotéis e espécies de clubes se aproveitaram da água quentinha e fizeram piscinas naturais com infraestrutura de banheiros, vestiários e restaurantes. Entre os mais populares estão o La Gruta Spa, com uma gruta e spa de massagem, e o Escondico Place, com piscinas aberta e fechada, restaurante e lavandas enfeitando o jardim. O Hotel Nirvana é outra opção de local pra fazer um day-use, com uma bonita piscina cercada por palmeiras. O ótimo restaurante, comandado pelo chef Juan Carlos, serve comida orgânica do jardim da propriedade – vale a visita.

DOLORES HIDALGO

Pueblo mágico a 40 minutos de San Miguel de Allende famoso pela colorida cerâmica mayólica (as peças vendidas em Guanajuato e San Miguel vem de lá), pelos nieves, sorvetes típicos com pedaços de fruta, que você encontra nas várias barraquinhas da Plaza del Grande Hidalgo e em sorveterias como a Paleteria la Michoacana, e por ter sido o local de início da Independência mexicana. Na estrada que vai a Guanajuato, o Parador José Alfredo Jimenez reúne lojinhas próprias de artistas que produzem cerâmicas e outros artesanatos – a qualidade é tremenda e o preço, mais elevado que em mercadões.

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CIRCUITO DEL VINO (foto à esquerda)

Numerosas vinícolas se espalham pela Sierra de Santa Rosa, entre San Miguel de Allende a Dolores Hidalgo – dos 4 100 hectares de vinho do país, 350 estão em Guanajuato. Na bodega-boutique Cuna de Tierra dá pra acompanhar a produção de vinhos, olivas e lavandas, além de participar de almoços harmonizados e degistações. Em agosto, época da vindima, há uma enorme festa da uva, em que todo mundo se veste de branco, bebe dos melhores vinhos da vinícola e aproveita um buffet com todo tipo de comida local.

CIRCUITO DEL NOPAL (foto à direita)

Guanajuato concentra uma importante produção de nopal, espécie de cactos que dá origem a uma verdura que parece ervilha e produtos naturais para o corpo e cabelo. A Passus Liberi faz um tour divertidíssimo de uma tarde a fábricas de nopal da região. Você parte do município de Salamanca na carroça de um tratorzinho cheio de feno ouvindo músicas típicas (um guia canta ao vivo com um violão) com um sombrero na cabeça rumo ao passeio. Há parada em fábricas pra conhecer plantações de nopal, produzir você mesmo cosméticos naturais e ajudar a cozinhar o almoço – uma espécie de mistura de carne ou frango com molho de vegetais dentro de um pedaço quente de nopal. Foi meu passeio preferido da viagem. Dura 4 horas e meia e custa 495 pesos com comes e bebes incluídos. A agência te busca em San Miguel de Allende ou Guanajuato.

SAN MIGUEL DE ALLENDE: ONDE FICAR

HOTEL MATILDA (diárias desde US$ 377, RESERVE AQUI!)

Hotel-design com 32 quartos, todos com varandinha, no miolo do centro histórico, em que eu me hospedei – a rua do hotel, SUPERcênica, dá atrás da Parroquia De San Miguel Arcángel. Foi eleito o terceiro melhor hotel do México pela Condé Nast Traveler e o melhor de San Miguel. Há obras de arte por todo canto, uma iluminação escurinha e decoração moderna. Shampoo, condicionador e creme hidrantante são em tamanho família da marca de Nova York MALIN+GOETZ (SIMPLESMENTE AMO).

San Miguel de Allende vive um boom gastronômico e hoje conta com mais de 100 restaurantes, mas nenhum deles supera o mexicano Moxi, no Hotel Matilda, assinado pelo renomado chef Enrique Olvera (do restaurante Pujol, na Cidade do México, eleito o 17º do mundo pela lista de melhores restaurantes da San Pellegrino). Não deixe de provar o risoto de abóbora e o peixe em beldroegas (uma saborosa plantinha rica em ômega-3).

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MANSION SAN MIGUEL (diárias desde US$ 179, RESERVE AQUI!)

Os terraços floridos guardam vistas estonteantes pra cidade, e os quartos misturam móveis vintage com itens mais contemporâneos.

COQUETA HOTEL BOUTIQUE (diárias desde US$ 60, RESERVE AQUI!)

No centro, é dona de um belo jardim com piscina e quartos simples mas arrumadinhos e espaçosos (os pra quatro pessoas são supereconômicos), instalados num casarão histórico. Aceita animais de estimação.

HOTEL CASA LOTERIA (diárias desde US$ 60, RESERVE AQUI!)

Num casarão amarelo-mostarda com um bonito pátio interno, tem 14 quartos modestos mas novinhos e bem decorados.

*O Carpe Mundi viajou a San Miguel de Allende à convite do escritório de turismo do estado de Guanajuato. O conteúdo deste post é independente e reflete apenas a opinião da autora.

Anna Laura

Um dos maiores nomes do turismo no Brasil, Anna viaja há 10 anos em busca de construir um mundo mais consciente, sustentável e a favor da natureza, propondo mais autoconhecimento através de suas experiências pelo globo. Jornalista por formação e fotógrafa por vocação, é editora do Carpe Mundi e Co-founder da plataforma de curadoria em aluguel de temporada Holmy, 100% nacional e de equipe feminina.

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