Conhecer Angkor Wat, o maior monumento religioso do mundo, deve estar na lista de todo mundo de coisas a fazer antes de morrer.

Angkor Wat é na verdade um dos templos de um enorme complexo no Camboja que já representou o auge do Império Khmer, com dezenas de ruínas distribuídas entre ruinhas de terra, árvores e lagos. Sim, há superlotação nas estruturas principais, mas a boa notícia é que é só se distanciar um pouquinho delas pra encontrar templos só pra vocês. A cidade-base pra se hospedar é Siem Reap, que, apesar de ser essencialmente turística, tem traços interessantes. Aqui, um guia completo pra você curtir ao máximo sua visita ao Angkor Wat.

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Um breve histórico de Angkor

“Angkor” significa cidade sagrada, “wat”, templo, e “khmer” se refere ao grupo étnico dominante no Camboja do passado e do presente. Angkor foi a capital do Império Khmer, que chegou a abranger quase todo Sudeste Asiático, entre os séculos 9 e 12. As ruínas que você em Siem Reap são o que restou da cidade, que já teve quase um milhão de habitantes. As construções de Angkor se distribuem pela linha do tempo do império, e por isso variam de estilo – ali no complexo está tudo misturado e é difícil identificar a ordem cronológica.

Angkor Wat foi construído sob o governo do rei Suryavarman II pra ser o principal templo da cidade por volta de 1100, quando o império estava em seu auge. Algumas décadas mais tarde tomou o poder o rei Jayavarman VII, que quebrou quase 400 anos de tradição hinduísta e instituiu o budismo como religião oficial, começando o período mais prolífico de construções em Angkor – o monumental Bayon é dessa época. Depois da morte de Jayavarman VII, a coisa minguou. Interessante perceber que durante o século 13 houve uma insurgência do hinduísmo, e por isso em templos como Ta Prohm você vê imagens de Buda quebradas ou transformadas em Shiva. O império entrou em declínio, não se sabe ao certo a causa, e mudou a capital pra Phnom Penh em 1432. Angkor foi visitada por vários exploradores e missionários entre os séculos 16 e 19, mas foi o francês Henri Mouhot que ganhou fama por “descobri-la” em 1860.

Nos anos 1970, o ditador Pol Pot instalou um regime truculento no Camboja com o chamado Khmer Rouge. De 1975 a 1979, a nação viveu um período de opressão e mais de 2 milhões de pessoas foram executadas ou morreram de fome. O Khmer Rouge sustentou uma guerrilha até 1993, quando a ONU conseguiu promover as primeiras eleições (mais ou menos) livres. O país ficou inacessível aos estrangeiros durante quase um quarto de século, e Angkor estava tomada pela vegetação e em vias de se deteriorar. Quando Angkor se tornou Patrimônio Mundial da UNESCO em 1992, abriu as portas pra novas fontes de doações: instituições alemãs, francesas, americanas e japonesas começaram a trabalhar com o governo cambojano para recuperar as ruínas. Resultado: em duas décadas, Angkor Wat tornou-se uma das atrações mais concorridas da Ásia.

A aceleração do turismo nos últimos anos – em 2015 foram 2 milhões de visitantes! – trouxe preocupações em relação à preservação do parque – faça sua parte e não deixe lixo, respeite as regras de visitação e, se possível, vá de bicicleta pra não intensificar o trânsito que se forma nas vias principais. Em junho de 2016, arqueologistas do país anunciaram a descoberta de outras cidades no subterrâneo de florestas próximas de Angkor que trouxeram nova luz aos estudos sobre os domínios Khmer – quem sabe vem coisa nova por aí pra visitar no futuro.

Como visitar os templos de Angkor

De bicicleta: É o jeito mais barato – no centro de Siem Reap você aluga bikes a partir de US$ 1 (mas essas, como se pode imaginar, são bem ruins, prefira as de US$ 4) pra passar o dia. A pedalada é pesadinha, principalmente na volta, quando você já está cansado. E se fizer o percurso maior você pode chegar a andar 40 km. É, porém, o jeito de ter mais liberdade na visita: você curte a brisa do parque, visita tudo no seu tempo, vai embora só quando cansar.

De bicicleta elétrica: Em lojas como a E-bike você aluga as bicicletas motorizadas, que chegam a até 30 km/h e não requerem que você pedale. Também proporcionam um ótimo passeio e não cansam, mas tem o porém de que você não poder ir tão longe assim com elas sem carregar a bateria – há pontos de carregamento dentro do parque, mas demora pra completar. Eu fiz o circuito pequeno com uma e não tive que carregar, mas quando cheguei de volta na loja de aluguel ela estava no quase no fim.

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De tuk-tuk: É o modo mais usual de visitar o parque. Os tuk-tuks cobram entre US$ 15 e US$ 20 pra passar o dia com você e muitos servem de guia (peça indicação de alguém no seu hotel). Eu particularmente só acho útil pra visitar os templos mais distantes, como Banteay Srei. Pra fazer os dois circuitos básicos é mais bacana ir por conta, a não ser que vocês esteja com crianças ou idosos.

De tour: Quando você ver o trânsito na porta principal do parque vai entender porque ir com tour de ônibus ou carro não é uma boa ideia. E acho que ter um espaço refrigerado entre janelas de insulfilme tira um pouco da magia do passeio.

Apesar de algumas pessoas desrespeitarem a regra, é teoricamente proibido que turistas aluguem motos automáticas (as scooters) em Siem Reap, coisa que acontece normalmente em quase todas as outras cidades do Sudeste Asiático. Dizem que é pra evitar acidentes, já que o volume de visitantes é muito intenso, o que faz sentido. Mas a máfia dos tuk-tuks que levam a Angkor Wat também tem influência nisso.

IR COM GUIA OU NÃO, EIS A QUESTÃO

De novo, pra sentir a vibe especial do lugar, eu acho mais legal ir de bicicleta (elétrica ou não) e ler as informações do templo de um guia de papel. Gosto da liberdade desse esquema, de poder sentar e contemplar as construções com calma, de explorar os complexos maiores e achar um cantinho vazio escondido. Por outro lado, é claro que ter algum expert com você vai te dar outro olhar; o guia conta histórias e repara em detalhes que podiam passar desapercebidos. Talvez seja interessante mesclar: ir um dia sozinho e outro com guia. Pra encontrar guias especializados, procure os da associação do Ministério do Turismo ao lado do Raffles Hotel, que oferecem tours privativos em inglês a partir de US$ 20. Outra boa empresa é a Asian Trails.

INGRESSO PRA ANGKOR WAT E COMPLEXO

No primeiro dia da visita você deve ir até o Ticket Office pra adquirir seu ingresso. O passe de um dia custa US$ 37, o de 3, US$ 62, e o de 7, US$ 72. De longe, o que vale mais a pena é o de 3 dias. Um é muito pouco e 7 é demais, a não ser que você esteja planejando ficar bastante tempo em Siem Reap.

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Roteiro dia a dia pra Angkor Wat e complexo:

DIA 1: Small Circuit (circuito pequeno de templos)

Muita gente começa o dia com o nascer do sol em Angkor Wat, mas eu acho a experiência mais estressante do que emocionante pela quantidade de gente. Sugiro iniciar o passeio lá pelas 8h deixando Angkor à sua direita, como mostra o mapa, e começar a exploração de templos em Ta Prohm Kel. Ele é pequeno, com uma torrinha de arenito só, e costumava formar a capela de um dos hospitais do rei Jayavarman VII. Os desenhos budistas gravados na pedra sofreram vandalismos típicos na insurgência hinduísta do século XVIII.

Continue até o Phnom Bakheng, ou Bakheng Hill, um dos primeiros grandes templos construídos na área, erguido em forma piramidal no alto de uma colina, com bela vista pra Angkor. Depois, entre pelo South Gate e continue até o monumental Bayon. Construído sob o governo de Jayavarman VII, é um templo budista com alguns elementos hinduístas. Seu traço marcante são os enormes rostos da Avalokiteshvara, uma das figuras mais populares do budismo – há 51 torres no Bayon, cada uma com quatro rostos. Há duas longas paredes rodeando o templo com milhares de desenhos esculpidos em pedra. Dá pra ficar um tempão ali explorando os corredores.

Saindo, continue reto e vire à direta, ignorando as várias construções à esquerda (deixe-as para o dia 2). Nessa avenida, antes e depois do portão, há várias ruínas; pare nas que te chamarem mais a atenção. Logo chega-se a Thommanon e Ta Keo, este último com cinco torres e escadarias íngremes. A próxima parada é Ta Prohm, o famoso templo do filme Tomb Raider. No mapa não dá pra atinar, mas ele cobre uma área enorme. Ta Prohm foi engolido pela floresta e tomado por raízes grossas de árvores que se entrelaçam em suas estruturas e dão a sensação de explorar uma cidade perdida. Erguido em 1186 em homenagem à mãe de Jayavarman VII, ele é cheio de torres, pequenos pátios e corredores apertados. Continue até Banteay Kdei, tão grande que tem duas entradas, um antigo monastério budista de Jayavarman II ricamente decorado. Do outro lado está Srah Srang, um grande lago com uma plataforma que abriga esculturas de leões e serpentes.

Ta-Prohm

Às 16h40 comece a rumar a Angkor Wat. O sol não se põe ali, mas a luz fica linda de todo jeito, e é um momento poético e menos lotado pra conhecer o maior monumento religioso do mundo. O coração já bate forte quando você adentra o complexo e vê Angkor Wat no fim da passarela, ficando maior a cada passo. A arquitetura de Angkor Wat é inspirada no lendário Monte Meru, a montanha cósmica que, segundo os textos hindus, é o eixo do universo. As cinco torres que definem seu perfil são uma representação poética do mito. O rei Suryavarman II, mandante do projeto, prezava por seu título de deus-rei. Desça e suba, vire pelos corredores e explore cada pedacinho de Angkor Wat, reparando nos desenhos gravados nas paredes – várias mostras as apsaras, ninfas celestiais com diferentes pulseiras, braceletes e penteados. Lá fora há laguinhos e outras pequenas capelas pra sentar e admirar Angkor Wat. Dá dó de ir embora.

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Roteiro dia a dia pra Angkor Wat e complexo:

DIA 2: Grand Circuit (circuito grande de templos)

Esse circuito vai ter início no mesmo local do dia anterior, deixando Angkor Wat à sua direita. Quando passar o Bayon, continue reto pra explorar o lado esquerdo da estrada. Ali há um terrenão gramado com árvores e uma aglomeração de construções pouco visitadas; é uma das minhas áreas preferidas do parque. Bem na estrada estão os Elephants Terraces, como indica o nome, terraços de 350 metros com desenhos de elefantes gravados, antigamente usados pra abrigar a plateia em cerimônias do império. Veja também o Baphuon, recentemente restaurado (ele foi praticamente destruído na ditadura do Khmer Rouge), onde há um Buda deitado com 60 metros. Gostei também do Preah Palilay, com sua torre escondida entre a vegetação e quase ninguém à vista.

Saindo pelo North Gate, vire a direira e vá até o Preah Khan, um antigo monastério budista que já abrigou mais de 1000 monges. Parecido com o Ta Prohm, ele também sucumbiu às raízes das árvores e à vegetação e tem aquela vibe Indiana Jones. O conjunto é cheio de pedras soltas, pátios e caminhos recônditos pra percorrer. Há muuuitas outras ruínas pelo caminho, mas a mais proeminente Neak

Pean, não muito pela construção, mas pela passarela que você percorre sobre a água pra chegar até ela, instalada numa pequena ilha. O último grande destaque desse circuito é Prasat Pre Rub, edificado por Rajendraman II pra deusa Shiva. Ele tem terraços que você pode escalar pra alcançar suas torres. Passei um tempão sentada ali pensando na grandiosidade daquele lugar.

Prasat pre rub

O caminho de volta é o mesmo do dia anterior – dê uma passada no Banteay Kdei, outro templo enorme, antes de partir.

Roteiro dia a dia pra Angkor Wat e complexo:

DIA 3: Outros templos

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Acredite: você estará exausto e próximo de uma overdose de templos no terceiro dia. Por isso, é melhor fazer uma programação mais light, dedicando uma manhã pra ver apenas três templos – você vai necessariamente ter que chamar um tuk-tuk, porque estes ficam mais distantes. Saia cedo, por volta das 7h, para o Phnom Bok, 17 km a leste de Angkor. Você alcança o templo, pouco restaurado e muito pitoresco, depois de subir os 635 degraus da escadaria; o esforço é compensado com silêncio e uma vista estarrecedora para o Lago Tonle Sap e plantações de arroz. Uma ideia é levar comidas do mercado ou do hotel e fazer um piquenique.

As duas outras paradas são o Banteay Samre, o do século 12, erguido no mesmo estilo de Angkor Wat, e o incrível Banteay Srei (nome que significa “cidadela da mulher”). Este último é formado por três torres, rochas avermelhadas com desenhos 3D gravados e diversas divindades, que acredita-se terem sido talhadas por mulheres.

DICAS PRA CURTIR OS TEMPLOS DE ANGKOR

– Comida: Há restaurantes simples no parque que cobram US$ 7 por um prato de noodles fritos (na cidade é US$ 2) e US$ 2 por uma garrafa de água. Eu comi ali um dia e no outro trouxe um sanduíche na bolsa. Várias banquinhas vendem mangas, cocos e abacaxis cortadinhos na hora pra aplacar a fome e o calor.

– Clima: Na época seca, de dezembro a abril, pode chegar a 38 graus no local, o que acaba deixando o passeio mais cansativo ainda. Hidrate-se, passe protetor e tente sair antes das 7h30 do hotel pra evitar o solão (e as multidões).

– Roupa: Teoricamente é falta de respeito mostrar os ombros e os joelhos ao entrar nos templos, mas com aquele calor é duro seguir isso à risca. Uma saia fininha longa pode resolver a parte dos joelhos.

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O que fazer em Siem Reap além dos templos

É possível que você fique tão cansado da visita aos templos que não faça muito em Siem Reap. A cidade é até simpática, disposta ao redor do Rio Siem Reap – caminhe ali pra encontrar cafés e lojinhas.

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Pub Street e Central Market: O mercado é bacana, muito parecido com outros do gênero no Sudeste Asiático. Tem temperos, frutas exóticas (das quais eles fazem sucos e shakes na rua), souvenirs. A Pub Street é o point noturno dos turistas, com restaurantes, baladas e bares barulhentos que cobram US$ 0,50 pelo copo de chope.

Restaurantes: Há muitos, desde uns que cobram US$ 1 por todos os pratos (isso mesmo), pra provar a cozinha khmer – muito similar à tailandesa – com opções como curry vermelho com leite de coco (misturado a frango e vegetais), e lap khmer, uma salada de carne marinada. Mas veja você que um dos 50 melhores restaurantes da Ásia pela lista da revista britânica Restaurant está ali: o Cuisine Wat Damnak. É de um chef francês, que se supre dos ingredientes e das receitas da região pra servir um menu-degustação de seis pratos numa casinha de madeira com jardim. E o melhor: custa US$ 28 por pessoa.

Show noturno: Vale a pena assistir a uma apresentação do Phare, The Cambodian Circus. É um show de dança, música e artes circenses dado pelos alunos da Phare Performing Social Enterprise’s Battambang, que ajuda comunidades carentes da região. Os hotéis normalmente vendem os ingressos (a partir de US$ 18).

Yoga e meditação: Um retiro do tipo tem tudo a ver com o lugar. Que tal unir à viagem a uma estadia de 4 dias no Angkor Zen Gardens? Num espaço lindo de 21 m² com jardins e uma piscina de água salgada bem próximo aos templos, ele organiza retiros a partir de três noites por US$ 240, com café, jantar e atividades.

Onde ficar em Siem Reap

Lembre-se que faz muito calor na região. Uma piscina é fundamental depois de um dia batendo perna pelos templos.

Bliss Villa: É um hotel que tem alguns quartos coletivos com beliches superconfortáveis, limpíssimo, banheiro dentro do quarto, ambiente tranquilo e uma piscina ótima. Ainda superbem localizado no centrinho. (RESERVE AQUI!, diárias desde US$ 7 no coletivo e US$ 24 no privativo).

The Moon Residence & Spa: Próximo do mercado central, tem acomodações espaçosas com banheira e decoração em tons de vermelho e madeira. Lá fora há restaurante, uma bela piscina e um jardim impecável. Custo/benefício top. (RESERVE AQUI!, diárias a partir de US$ 40).

Maison Polanka: Um dos melhores hotéis da cidade, tem apenas cinco quartos dispostos em casinhas tradicionais antigas, as teak houses. Apesar de estar perto do centro, fica num terreno com um minimatagal envolvendo as construções que dão um toque rural ao hotel. Há piscina e restaurante. (RESERVE AQUI!, diárias a partir de US$ 127).

Ratanak Boutique & Spa: Pequeno, tem quartos novíssimos com varandas dispostos ao redor de uma piscina, a 1,2 km da Pub Street, e um restaurante de comida local. O preço é sensacional. (RESERVE AQUI!, diárias a partir de US$ 50).

Viroth’s Hotel: Tudo lindo aqui: a biblioteca, os elementos asiáticos na decoração contemporÂnea, o piso de azulejos na área da piscina, as luminárias moderninhas do restaurante, os quartos com terraço. (RESERVE AQUI!, diárias desde US$ 109).

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