Fez é a cidade com a Medina mais caótica do Marrocos. E suas Chaouwara Tanneries (ou tanques de tingimento de couro) são a parte mais maluca e fedida dela – quem assistia a O Clone logo reconhece a cena.

Só não imagina o péssimo odor que há no local. E nem a atividade cruel que rola ali tanto com os animais cujas peles dão origem aos milhares de artigos de couro tingido vendidos por toda Fez como com os burrinhos que levam dezenas de quilos de couro em suas costas pela Medina no maior calor do mundo, num ato desumano, até o local. Isso sem falar nas práticas de trabalho totalmente antiquadas que rolam ali, uma vez que seus trabalhadores passam o dia com as pernas mergulhadas nos tanques cheios de produtos químicos.

Mesmo assim, as Chaouwara Tanneries ainda são uma das atrações mais emblemáticas de Fez, que atraem milhares de turistas diariamente em busca de conhecer o curioso processo de tingimento do couro, comprar variados artigos de couro a preços acessíveis e tirar fotos das icônicas bacias coloridas dos terraços em cima das lojas. Afinal, Fez é um dos pontos mais tradicionais de processamento de couro do mundo.

Nos últimos anos, inclusive, foram feitos planos pra transferir a atividade pra fora da cidade pelo cheiro e a poluição provocada (todos os resíduos químicos são jogados no Rio Oued Sebou), mas como o impacto econômico seria gritante, a ideia foi ficando pra depois.

Em tempo: o Carpe Mundi não apoia atrações turísticas cruéis aos animais, mas acredita ser importante pra quem divulga a informação conhecer um local e uma atividade com profundidade pra poder falar melhor a respeito. Não criticamos viajantes que se interessem pela prática e estejam em busca de bolsas, sapatos e jaquetas de couro de qualidade, mas deixamos aqui a mensagem de reflexão sobre o processo. Lembre-se de que é exatamente o lucro da venda dos artigos que continua permitindo a essas crueldades e técnicas totalmente antiquadas (inclusive com os trabalhadores humanos) a existir.

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O QUE SABER ANTES DE VISITAR AS CHAOUWARA TANNERIES DE FEZ, NO MARROCOS

1) A melhor forma de visitar as Chaouwara Tanneries é com guia. Aliás, é difícil fazer qualquer coisa em Fez sem guia: primeiro porque é impossível não se perder na Medina, depois porque você acaba gastando um pouquinho aqui e ali ao pedir instruções de como chegar nos pontos turísticos e por último vem o fato de que você se sente muitíssimo mais seguro ao explorar o local acompanhado de um local confiável. E ele irá te levar aos terraços mais interessantes pra fotografar os curtumes.

2) Se quiser comprar algum artigo de couro, opte pelas lojas ao redor das tanneries. Todas aceitam cartão de crédito e você verá uma variedade muito maior de produtos. Também lembre-se de negociar sempre: tudo custa realmente de metade a até 1/3 do valor ofertado.

3) Você não paga nada pra subir nos terraços das lojas, mas os vendedores irão te persuadir o tempo todo pra comprar algo.

4) Ao se aproximar das tanneries, irão te oferecer raminhos de hortelã pra aliviar o cheiro. Não aceite-os se não estiver considerando pagar por eles (um troco de 5 dirhams marroquinos já basta). Uma boa é levar um sprayzinho de menta na bolsa.

5) Ao ouvir a palavra “balak”, abra caminho rapidamente. Significa que os burrinhos estão passando com as pilhas de couro nas costas ?

6) O terraço mais fotogênico, de onde se tira a foto clássica das bacias coloridas, é o último. Se não estiver com guia, pra chegar lá você muito provavelmente vai precisar da ajuda de algum comerciante local, que irá te cobrar uma quantia pequena, por isso vale andar com moedas. Mas não saia seguindo ninguém sem ter certeza de que está indo no caminho certo: pra isso vale ir parando em lojinhas e perguntando se a o último terraço das tanneries é nesse caminho (mesmo com o local te chamado insistentemente).

7) É possível também andar pelas tanneries, no nível do solo. Você precisa pedir isso pro vendedor de alguma loja com entrada pro local e pagar um valor simbólico pra ele (cerca de 20 dirhams já bastam). Ele provavelmente irá te pedir pra não demorar muito – gaste 10 minutinhos ali – e você precisa ter cuidado com onde pisa pra não cair numa das bacias e se encharcar de corante, fezes de pombo e urina de vaca (SIM, AMBOS “INGREDIENTES” SÃO USADOS NO PROCESSO). Em grupos grandes, a entrada fica mais difícil.

Anna Laura

Um dos maiores nomes do turismo no Brasil, Anna viaja há 10 anos em busca de construir um mundo mais consciente, sustentável e a favor da natureza, propondo mais autoconhecimento através de suas experiências pelo globo. Jornalista por formação e fotógrafa por vocação, é editora do Carpe Mundi e Co-founder da plataforma de curadoria em aluguel de temporada Holmy, 100% nacional e de equipe feminina.

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