O que está por trás dos beijinhos em golfinhos, das selfies com tigres, dos passeios de elefante?

Na lista a seguir, selecionei as atrações turísticas com animais mais cruéis do mundo baseadas no relatório da ONG britânica World Animal Protection, com opções de lugares pra ver animais de forma mais ética.

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Segundo uma pesquisa da Universidade de Oxford realizada em 2015, cerca de 550 000 animais sofrem nas mãos de atrações turísticas irresponsáveis pelo mundo.

ÍNDICE

  1. Como fazer um turismo mais responsável
  2. Atrações turísticas com tigres
  3. Atrações turísticas com elefantes
  4. Atrações turísticas com leões
  5. Atrações turísticas com golfinhos
  6. Atrações turísticas com baleias
  7. Atrações turísticas com macacos
  8. Outras atrações turísticas com animais mais cruéis do mundo (e alternativas)
  9. Dicas para não corroborar com a crueldade em atrações turísticas com animais

Como fazer um turismo mais responsável

PESQUISE

Antes de partir para qualquer expedição ou atividade mais imersiva, principalmente na natureza, entenda todas as facetas do passeio, o impacto ambiental da sua visita, quem está ganhando dinheiro ali e a que custo.

PERGUNTE

Se a excursão for mediada por uma empresa ou organização, não hesite em perguntar como eles contribuem com a comunidade local. Opte sempre por serviços que tenham um olhar consciente sobre impacto social e ambiental que geram.

PONDERE

A atividade é apenas para sua própria satisfação? Qual sua motivação? Sua visita será útil para quem está em posição de vulnerabilidade no lugar – sejam eles pessoas, animais ou o meio ambiente?

APRENDA

Fechando um passeio para uma imersão cultural/natural segura, esteja sempre atento a práticas que visem respeitar as tradições locais; leia, estude e escute o que as pessoas têm a dizer. 

As atrações turísticas com animais mais cruéis do mundo (e alternativas pra ver os bichos de forma mais ética):

Leões, macacos, baleias e diversas outras espécies passam por alojamentos e alimentação inadequados, falta de tratamento veterinário, treinamentos brutos e trabalho forçado que causam mortalidade precoce. Essas atrações impulsionam uma indústria milionária que reproduz animais de forma não saudável para fins lucrativos, acarreta desequilíbrios em ecossistemas e ainda incentiva a captura ilegal. E você também corre perigo: esses animais podem desenvolver comportamentos agressivos devido ao estresse do cativeiro – desde o fim de 2014 pelo menos cinco turistas foram mortos por elefantes na Tailândia. O estudo também avaliou 50 000 avaliações do TripAdvisor nessas atrações e revelou que 80% delas eram críticas positivas. O que mostra basicamente que as pessoas têm fascínio e compaixão com os animais, mas desconhecem a crueldade. Na última década, a popularização de documentários como Blackfish, sobre o uso de orcas em shows acrobáticos, e alta exposição na mídia de maus-tratos com animais tem aumentado a preocupação geral com esse tipo de atividade.

TIGRES

Atrações turísticas com animais: filhotes são tirados cedo da mãe e passam o dia de mão em mão com turistas. Enquanto crescem, são comumente confinados em jaulas de concreto de menos de 20 m² (enquanto na natureza eles caminham de 16 a 32 km todas as noites) e são submetidos a treinamentos duros para prepará-los para performances e interação com as pessoas. O problema veio à tona na mídia em 2009, quando uma das atrações com tigres mais famosas da Tailândia, o Tiger Temple da cidade de Kanchanaburi, começou a ser investigado por tráfico de órgãos e membros de tigre; em junho de 2016 as autoridades do país confiscaram os 147 tigres que viviam ali. Hoje ainda há cerca de 830 tigres sendo usados em atrações turísticas por lá. Numa pesquisa da World Animal Protection, as piores condições foram encontradas no Sriracha Tiger Zoo, próximo à cidade litorânea de Pattaya, onde os animais são usados em shows circenses com cordas bambas, danças e arcos– muitos estavam subnutridos e com marcas de feridas, além de posarem para fotos e ficarem “mansos” para alimentá-los e tirar fotos. Luagres éticos não realizam apresentações ou permitem interações do público com os animais. A série A Máfia dos Tigres, da Netflix, retrata bem a situação.

ONDE VÊ-LOS SEM CRUELDADE: Nos parques nacionais da Índia, onde vive mais da metade dos poucos 3 800 tigres selvagens do mundo. No Ranthambore National Park, você os observa de carro em safáris.

ELEFANTES

O paquiderme que morreu no Camboja após levar um turista no lombo em abril de 2016 evidenciou mais uma vez um dos casos de crueldade animal com maior adesão dos turistas. Segundo a World Animal Protection, são 16 mil elefantes em cativeiro em todo o mundo. Na Tailândia, epicentro do problema, cerca de 1300 elefantes são usados para promover passeios e apresentações ao todo. Muitos vivem acorrentados, obrigados a trabalhar sob calor extremo da região, não têm abrigo adequado (alguns passam a noite amarrados na beira de estradas), nem cuidados veterinários. Para serem treinados, são usados objetos pontiagudos, varas, chicotes e até processos de tortura (com períodos sem água e comida). Na África (África do Sul, Zâmbia, Zimbábue e Botswana), há pelo menos 39 estabelecimentos desse tipo “empregando” cerca de 215 elefantes para passeios, shows e interações. Impulsionado pela indústria turística, filhotes de elefantes podem valer até US$ 60 mil, o que leva à captura ilegal.

ONDE VÊ-LOS SEM CRUELDADE: Na Tailândia, um dos locais mais éticos é o Elephant Nature Park, onde estão elefantes resgatados de maus-tratos do turismo e de madeireiras – veja mais sugestões de lugares éticos no post POR QUE NÃO ANDAR DE ELEFANTE NA TAILÂNDIA. Na África, procure safáris como o Chobe National Park, em Botswana.

LEÕES

Atrações turísticas com animais: na África do Sul há 150 “lion parks”, onde leões são reproduzidos puramente para fins lucrativos. Nesses parques os filhotes são separados das mães com menos de um mês (na natureza ficam até 8 meses junto delas) para aparecerem em fotos de centenas de pessoas diariamente. Apesar dos esforços do o governo sul-africano de acabar com a indústria, estimasse que o número de leões remanescentes em centenas de instalações varia de 8 000 a 12 000. Quando adultos, muitos desses leões se tornam agressivos devido ao estresse e, como não podem ser soltos na natureza, são sacrificados, mantidos em jaulas apertadas para exibição ou vendidos para “lion farms”, espaços confinados onde eles podem legalmente ser caçados por quem pagar (isso mesmo). A população da espécie diminuiu mais de dois terços nos últimos 30 anos no continente africano.

ONDE VÊ-LOS SEM CRUELDADE: A Tanzânia tem a maior população de leões selvagens do continente. No Serengeti National Park, você pode até testemunhar um apanhando uma hiena, principalmente entre julho e outubro.

GOLFINHOS

Segundo a organização Ceta-Base, 2 100 golfinhos são mantidos em cativeiro em 59 países (a maioria nos EUA, Japão, China e México). Muitos ainda são capturados na natureza com métodos cruéis (principalmente em Taiji, no Japão, e no Caribe) para serem vendidos para aquários e centros onde é possível nadar e brincar com os animais. Eles são obrigados a trabalhar jornadas abusivas realizando truques repetidas vezes. O jeito brincalhão e afetivo camufla a realidade triste que vivem em piscinas com espaço limitado (frequentemente tratadas com cloro, que causa irritações na pele e olhos deles), onde sofrem de automutilação, ataques cardíacos e distúrbios mentais.

ONDE VÊ-LOS SEM CRUELDADE: Perto de Cancún, eles podem ser observados em tours pela Reserva Natural de Sian Ka’na. Na Flórida, Key West é casa de pelo menos 300 golfinhos que nadam por ali o ano todo – veja com a agência Fury Water Adventures. No Brasil, a Baía da Formosa, no Rio Grande do Norte, e a Ilha do Cardoso, em São Paulo, entre muitos outros lugares, também oferecem encontros com os bichinhos saltando da água no horizonte.

BALEIAS

Atrações turísticas com animais: os maus-tratos a baleias orcas em cativeiro foram evidenciados pelo documentário Blackfish, de 2013 – aliás, a baleia Tilikum, o grande foco do filme, morreu. Animais que na natureza podem nadar até 60 metros de profundidade e viajar mais 150 quilômetros em um dia são mantidos em tanques pequenos e acometidos por estresse, problemas genéticos (por reprodução entre parentes) e mortalidade precoce. O filme também mostrou como desenvolvem comportamentos agressivos e os diversos casos de ataques a treinadores encobertos pelas empresas onde trabalhavam. O Sea World anunciou em 2017 o fim dos shows acrobáticos envolvendo baleias no parque de San Diego, na Califórnia, e as autoridades do estado proibiram o parque de reproduzir os animais. Belugas também são comumente usadas para entretenimento no Canadá e nos Estados Unidos.

ONDE VÊ-LAS SEM CRUELDADE: Um dos melhores lugares do mundo para avistar orcas é o Lime Kiln Point State Park , entre Seattle, nos Estados Unidos, e Vancouver, no Canadá, principalmente entre maio e outubro. Outras espécies de baleias dão as caras em locais como a Cidade do Cabo, na África do Sul e a Baía Solano, na Colômbia. No Brasil, as baleias-franca passam pertinho da costa de Garopaba, em Santa Catarina, e as jubarte, de Abrolhos, na Bahia.

MACACOS

Por sua inteligência e fácil domesticação, macacos são usados ao redor do mundo em shows performáticos onde têm condições ruins de alojamento e sofrem treinamento agressivo pra se apresentarem em circos, na rua, zoológicos e outras atrações – em lugares medonhos como o Phuket Monkey School, na Tailândia. Do Brasil à Cingapura, Tailândia, Indonésia e Japão, os animais também são alimentados incorretamente pelos turistas, principalmente próximos de centros urbanos, causando doenças e eventuais ataques pela aproximação indevida das pessoas. Em muitos locais são oferecidos “monkey tours”, que não têm nenhum cuidado com o bem-estar dos bichos: eles despejam uma galera em locais onde vivem muitos macacos e deixam todo mundo dar comida e brincar com eles.

ONDE VÊ-LOS SEM CRUELDADE: Na Floresta Amazônica há dezenas de espécies de macaco; ficando no hotel de selva Juma Amazon Lodge, você vê macacos-barrigudos, macacos-de-cheiro e zogue-zogues. Na Costa Rica, o Manuel Antonio National Park é casa para macacos-prego, bugios e macacos-esquilo. Uganda é o melhor país do mundo para ver chimpanzés, no Kibale Forest National Park e gorilas, no Bwindi Forest National Park.

AS ATRAÇÕES TURÍSTICAS COM ANIMAIS MAIS CRUÉIS DO MUNDO (E ALTERNATIVAS)

URSOS: Há dezenas de “parques de ursos” pelo mundo, onde eles vivem apertados em jaulas (ursos são animais solitários na natureza, então essas superlotações causam brigas e mortes entre eles). Em muitos países ainda são usados em circos.

COBRAS: Você possivelmente já viu alguém na rua com cobras cobrando pra você segurá-las e tirar fotos com elas (é muito comum na Ásia). Essas cobras são normalmente capturadas na natureza e têm seus dutos de veneno removidos ou bloqueados (nesse processo muitas acabam feridas ou mortas).

CROCODILOS: Nos Estados Unidos, Austrália e Tailândia são muto comuns “fazendas” de crocodilos (onde eles são reproduzidos para servir à indústria da moda, pela carne e outras razões) abertas à visitação. A World Animal Protection documenta que muitas delas têm condições de vida insalubres para os bichos. Devido ao estresse de viverem em jaulas de concreto com muitos animais, eles brigam, arrancam pernas uns dos outros e até se matam.

CONHEÇA PASSEIOS ÉTICOS AQUI:

ATRAÇÕES TURÍSTICAS COM ANIMAIS: COMO AGIR EM RELAÇÃO A ZOOLÓGICOS E AQUÁRIOS?

animais e pessoas no aquário de seattle

Eles são polêmicos. Em janeiro de 2016, foi anunciado o fechamento do zoo de Buenos Aires, que tinha instalações antiquadas e inapropriadas para exibição de animais – o que é o caso de centenas de zoológicos pelo mundo. E, mesmo que bem estruturados, eles são locais que privam os bichos de viverem em suas condições naturais. Mesmo para crianças, a PETA, uma das maiores organizações de direitos dos animais do mundo, relativiza o valor educativo que um zoológico possa ter – o que ela de fato aprende sobre conservação ambiental vendo o animal preso fora de seu habitat?

A veterinária Heather Rally, da PETA, também alerta para o fato de que mais da metade dos animais dos aquários serem tirados da natureza e que 80% deles morre durante processos de transporte. Como os animais aquáticos são muito sensíveis, qualquer erro no tratamento dos tanques (no oxigênio, por exemplo) pode resultar em mortes massivas. De acordo com o PETA, houveram incidentes com mortes de arraias pelo menos uma vez por ano nos últimos 9 anos. Em julho de 2016, por exemplo, 18 arraias foram encontradas mortas num tanque de um zoológico em Michigan, nos Estados Unidos, após um erro no bombeamento da água. Em 2015, um acidente similar em Chicago causou a morte de 54 arraias.

DICAS PARA NÃO CORROBORAR COM A CRUELDADE EM ATRAÇÕES TURÍSTICAS COM ANIMAIS:

elefante safari
  • Não participe de atividades em que você possa tocar animais silvestres, salvo alguns casos de alguns santuários, e não assista shows performáticos. Nas duas situações, eles precisam ser sedados, separados de suas mães ainda filhotes, privados de comida ou adestrados de maneira punitiva.
  • Não vá desavisado: pesquise sobre o lugar que você vai visitar ou a empresa que pretende contratar. Os sites de atrações cruéis mentem e forjam a realidade dos animais que vivem ali.
  • Não pague para ver lutas com ou entre animais, nem em eventos considerados culturais. Na Espanha, cerca de 40 000 touros são mortos anualmente em touradas, brigas e eventos tradicionais como a Festa de San Firmino.
  • Não compre souvenirs feitos de animais: couro de jacaré, pele de cobra, marfim, borboletas.
  • Animais domésticos (cavalos, camelos, lhamas) também podem ser tratados com crueldade. A PETA documenta uma longa lista de acidentes com charretes em grandes cidades, onde cavalos têm péssimas condições de alojamento e são obrigados a trabalhar e puxar mais peso do que podem.
  • Prefira sempre ver os animais na natureza, em mergulhos, áreas protegidas e parques nacionais. Alguns santuários que cuidam de animais resgatados ou centros de conservação como o Projeto TAMAR e o Onçafari também oferecem boas experiências. De acordo com a pesquisa da Universidade de Oxford, 25% das atrações analisadas, que abrigam cerca de 13 000 animais, têm impacto positivo na preservação de espécies.

*Post baseado em matéria publicada na revista Viagem e Turismo, feita por mim

Betina Neves

A jornalista é perita em traçar roteiros e vive na eterna busca pela passagem aérea mais barata. Escreve um e outro post por aqui enquanto explora o mundo dentro e fora de si. Pode ser encontrada em cachoeiras na Chapada dos Veadeiros, retiros budistas na Tailândia e montanhas na Califórnia.

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